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Sou Mais Eu...

Sou Mais Eu...

07.06.21

Vou indo...

soumaiseu

Sem-esperanca.jpg(Imagem retirada daqui)

 

Desde o meu último post tudo se complicou na minha vida. 

Ando cansada de tanta desgraça, de tanta coisa a correr mal. O meu sogro está internado há mais de 1 mês, em processo de "auto-destruição", vitima de várias infecções que não respondem com sucesso aos antibióticos. As esperanças são quase inexistentes, o estado dele é cada vez mais frágil, a dependência de terceiros cada vez maior, e o alheamento uma constante diária. Está acamado, não reage a quase nada,  já não se mexe sozinho, come apenas por seringa, já pouco fala... Cuidar de um demente nunca foi fácil. Não há doses de amor que apaguem todo e qualquer desgaste físico e psicológico que nos surge. E desenganem-se os que pensam o contrário. É difícil. Extremamente difícil. Desgastante. Há dias em que já não queremos continuar a cuidar simplesmente por que já não conseguimos. E outros em que basta encher o peito de ar para ganharmos um novo fôlego para mais uma temporada.... Mas vê-los assim, internados, sem melhoras, a definharem dia após dia, num sofrimento que não lhes vemos declarado mas que sabemos existir seja de que forma for, é duro! Muito duro! Vejo a tristeza, a impotência e o desânimo nos olhos do filho. Vejo as lágrimas nos olhos da neta, provando existir entre ela e o avô uma ligação que eu nunca julguei possível tendo em conta que, enquanto demente, o meu sogro sempre a ignorou e até era rude com ela... É cinzento o nosso dia-a-dia mesmo quando o sol brilha lá fora...

13.03.21

E a crise do sogro...

soumaiseu

demencias-com-corpos-de-lewy.jpg(Imagem retirada daqui)

... acabou numa noite passada no hospital. Fez febres altas que não baixavam com paracetamol. Dois  dias nisto. Não queríamos recorrer ao Hospital por causa da pandemia. Questionamos o centro de saúde sobre a possibilidade de uma consulta ao domicilio, "Com Covid não há, quem faz essas consultas é a dra Xpto mas têm de ser marcadas com antecedência e demoram..." A sério? E quem está acamado morre em casa sem assistência médica? Que seja então o Hospital. Ligamos para a Saúde 24, vêm os Bombeiros, febre é sintoma de Covid logo vai para a ala dos doentes com Covid para ser testado. Ninguém pode ir com ele. Vai sozinho. Uma pessoa demente, mentalmente alterada e instável. Ao vê-lo sair porta fora o sentimento de impotência é brutal. A revolta contra esta pandemia diabólica imensa. "Uma pessoa pensa que está a fazer bem e ainda faz pior", foi o desabafo do filho. Lá foi. Comunicam connosco por SMS, "... está a ser visto pelo médico", o resultado do teste do Covid é negativo. De manhã telefonam-nos. O médico diz que o diagnóstico é uma infecção urinária grave. Tem alta, vem para casa medicado. Chega prostrado, visivelmente sedado. Passa o dia a dormir. Quando acorda percebemos que passado o efeito da sedação continua alterado, mal se sustém em pé... É um sarilho movimenta-lo, mexe-lo, leva-lo para onde quer que seja, dar refeições, mudar fraldas, limpar, vestir... O sogro é um homem alto e encorpado, mede mais de 1.80m, apesar de cada vez mais magro continua a ser muito pesado, e os laivos de Parkinson dão-lhe uma rigidez corporal difícil de contornar. O nosso esforço é tremendo. Fazemo-lo por amor. Mas cada dia que passa é mais complicado... Só quem passa por estas situações consegue compreender a turbulência de sentimentos com que vivemos dia após dia...

11.03.21

Por cá...

soumaiseu

margarida.jpg

(Imagem retirada daqui)

... o trabalho aperta. A escola on-line da Rita não deixa espaço para muito mais. Entre aulas, treinos do Sporting em casa e sessões de Brain Alive, a réstia de tempo que sobeja é gasta em TPC's aos magotes e trabalho assíncrono. E a  busca constante da petiz pela perfeição não ajuda em nada: "Mãe, já fiz o trabalho de inglês, podes ver se estão bem antes de enviar à stora? Oh pai, tenho dúvidas em geografia, podes vir aqui? Mãe, tenho mais um trabalho de EV para fazer, e a Tic temos de criar um blog, vais-me ajudar não vais? Oh pai, a net está toda bugada, não estou a conseguir acompanhar a aula, quando é que ligas para lá? A stora está toda parada, assim não pode ser..." Enfim. Daqui a uns anos vamos pensar nestes períodos de aulas on-line com nostalgia, ou não...

Entretanto o sogro está em crise quase constante. Tem períodos em que dá a sensação de não nos conhecer. Trata-nos com cortesia, "Sim, senhora! Não senhor!". Há dias em que quase não fala e permanece enredado no mundo dele. Confunde-me com uma das irmãs e o filho com "uma pessoa qualquer que aqui está a falar com ela (a irmã)". Hoje, sem qualquer motivo porque é assim que a demência actua, está em modo de tiques verbais constantes. O dia inteiro a verbalizar "opa, oh rapaz, ó Morais já lá vais, oh moço..." Sabemos de antemão que a noite vai ser igual e tentamos não pensar muito nisso. Nós lá vamos fazendo a nossa vida dentro do possível tentando ignorar esta musica de fundo constante, que nos enerva, nos irrita, mas que também nos entristece cada vez mais. Não há nada que possamos fazer. Apenas esperar que a tempestade acalme sabendo que brevemente estará de volta. Outra e outra vez... 

27.01.17

O Explorador....

soumaiseu

E esta madrugada o filho encontrou o pai a tentar caçar pulgas. Já se tinha despido da cintura para cima e revolvia a roupa à procura...

- Então? Que estás a fazer?

- Estou a apanhar pulgas. Não me deixam dormir com as ferroadas que me dão...

- Mas não há pulgas cá em casa...

- Estão na cama, sinto-as a rabear nas costas... 

O filho procurou com ele as ditas pulgas. Não havia nenhuma pinta de sangue, a marca concreta que as pulgas deixam quando nos picam. Tendo nós duas gatas em casa podia eventualmente haver alguma, mas não encontrou nada. Nem na roupa nem na cama... O sogro lá se deitou, não muito convencido, mas lá acabou por adormecer...

25.01.17

O Explorador...

soumaiseu

Enquanto varria a casa dei com o sogro a vestir umas calças por cima do pijama.

- Então? Veste as calças por cima do pijama?

- Não faz mal! Assim estou mais quente.

- Está bem! Já não volta para a cama?

- Não.

- Quer que lhe ligue a televisão?

- Não, não quero televisão. Primeiro vou tratar dumas coisas que tenho para tratar.

- Que coisas?

- Vou lá fora à hortaliça...

- Deixe lá a hortaliça, eu daqui nada trago-lha quando for buscar a Rita à escola...

- Não é para comprar! É para vender!

- Vender?

- Sim, quero ver se arranjo alguma coisa para vender. Se der algum deu, se não der paciência...

Pensei para comigo "pronto, lá vamos nós passear outra vez..." Entretanto lembrei-me que o sogro é viciado em noticias e pus-lhe a televisão no seu canal preferido, a SIC Notícias. Ele saí do quarto e eu insisto:

- A televisão da sala já está ligada...

- Não quero televisão. Vou dar uma volta...

Começo a stressar...

- Onde? Ó pá! Não me diga que hoje há passeio?! Olhe que está frio....

Ri-se e com ar de gozo responde-me:

- Vou dar uma volta vou.... - faz uma pausa para ver a minha reação e continua - mas vou dar uma volta mas é aqui em casa!

Olha o engraçadinho, hein? Para a próxima dou-lhe uma vassourada!

(E acabou por ficar grudado nas notícas e já não foi em "busca da hortaliça"....)

10.01.17

O Explorador....

soumaiseu

IMG_20170110_103850.jpg

(Foto minha: Boneco antigo, que era meu, passou para a minha filha e que temos a decorar a casa-de-banho)

Segundo o marido (porque eu ferrei no sono e não dei por nada), o sogro hoje aterrorizou a existência deste boneco. Às duas da manhã agarrou no desgraçado e quis fazer um tampão com ele. Sentou-se na cozinha com o dito na mão enquanto estudava as suas hipóteses.

- Que tampão? 

- Um tampão. Já vais ver!

- Mas isso é da Rita -  dizia-lhe o filho.

- Mas vou fazer um tampão...

O filho não se atreveu a sair de ao pé dele com medo que ele resolvesse esquartejar o boneco. Até que se cansou e o largou dizendo que afinal não dava...

Nem os bonecos da Rita escapam ao terror do Indiana Jones cá de casa... Oh, vida! 

21.12.16

O Explorador...

soumaiseu

Cheguei à conclusão que tomar conta do sogro tem sido uma brincadeira de bebes desde que ele veio cá para casa. Nos últimos dois dias o sogro tem estado em crise. Iniciou todo um discurso desconexo e repleto de palavrões. Está desnorteado, agressivo, ameaça as gatas que lhe dá uma bengalada que as "f..de!". Aponta a bengala à neta e dispara um tiro. Chama-lhe galinha. Roga a morte à minha mãe. Diz-me claramente que a minha obrigação é lavar o que ele suja. Há duas noites atrás não dormiu. Combateu o sono tal como uma criança que se recusa a fechar os olhos, falando constantemente, dizendo palavrões, ameaçando tudo e todos, batendo sistematicamente com a bengala no chão num movimento rítmico extremamente irritante, mexendo constantemente os pés enquanto está sentado onde calha porque andar ou manter-se em pé é quase impossível... 

- Que estás a fazer? Para quieto com os pés! - diz-lhe o filho.

- Eu estou a andar, não vês? Estou a andar à 10 minutos e não há maneira de chegar ao meu destino...

Cinco da manhã. O filho não dorme porque o sogro se recusa a ir para a cama. Não tem sono e ainda é cedo, diz ele. Encontro um marido desnorteado. Já tentou de tudo. Nada o faz deitar-se. Sugiro-lhe que ligue para a Saúde 24. Durante a chamada descobrimos que tem os diabetes a 251. Acaba por ir para o hospital com o INEM. São feitas as análises ao sangue e à urina de rotina, nada se deteta. É visto por um neurologista que tem acesso ao processo e que imprime o relatório dos testes neuropsicológicos já realizados para nos dar essa informação: a psicóloga conclui o relatório com o diagnóstico de Demência de Grau II. Continuamos à espera que o chamem para internamento a fim de realizar as punções lombares que irão concluir definitivamente o diagnóstico. Entretanto vem para casa com medicação para dormir e uns pensos para estabilizar a doença. 

Ontem. Durante o dia continua desnorteado e incoerente.  À noite, já sob o efeito do comprimido para dormir o sogro continua a combater o sono.

- Ainda é cedo. 

- Vai para a cama. - diz-lhe o filho.

- Hei-de ir, mas ainda é cedo...

Vai à casa de banho urinar. Mal se mantém de pé. Acaba por fazer na fralda não tenho consciência disso. Com as calças nos tornozelos quase se mata ao desequilibrar-se. Ao segurar-se para não cair descola-me a pedra mármore do lavatório da parede. Perdemos ambos as estribeiras com ele. O filho passa-se, grita-lhe. Manda-o para a cama imediatamente de uma forma firme e assertiva. A caminho do quarto ainda tenta ir "ver se está tudo bem na sala". O filho não deixa e impõe mais uma vez a sua vontade. Conseguimos finalmente po-lo na cama. Meia hora depois já ressonava.

Até agora tem sido tudo muito fácil. Pressinto que agora sim, agora as coisas vão começar a complicar. No espaço de cerca de um ano o sogro atingiu o segundo grau de demência. Pergunto-me quanto tempo levará a atingir a última fase... Nem quero pensar naquilo que nos espera. Difícil! Muito difícil! Avizinham-se tempos muito complicados... Oh Deus! 

28.11.16

O Explorador...

soumaiseu

Um quarto para as cinco da manhã. Sobressalto com o Toc-toc da bengala no chão. Acordo o marido. Digo-lhe que o pai anda outra vez a passear pela casa. O marido levanta-se e encontra-o na sala.

- Que andas a fazer?

- Estou a ver se há por aqui alguma coisa para roubar...

- Para roubar?

- Sim... isto é uma mesa... isto é uma cadeira... aqui é roupa...

- Não há aqui nada para roubar, estás em casa...

- Mas deixa ver, pode haver aqui alguma coisa...  e ali? - referindo-se ao nosso quarto.

- Ali também não, é onde nós dormimos...

- Então deixa lá ver melhor... pode haver aqui alguma coisa para roubar...

Levanto-me da cama, encontro as coisas no corredor reviradas e espalhadas pelo chão, e no chão do quarto dele um lago de urina. No meio da confusão mental algo correu mal e aliviou-se mesmo ali. Um limpa o chão outro arruma as coisas. Depois passo por ele e pergunto:

- Porque é que está acordado?

- Ah, espalhei o sono e agora estou acordado...

- Sabe que horas são? Veja lá no relógio as horas.

- São cinco...

- São cinco da tarde ou da manhã?

- É de noite...

- Então são cinco da manhã. O que é que se faz a esta hora? 

- (Confusão)

- A esta hora as pessoas normais dormem. Porque é que você anda a passear pela casa a esta hora? Vá dormir! A esta hora dorme-se!

- Está bem, vou-me deitar mais um bocado...

E assim fez. Ficámos sem saber se ele queria roubar alguma coisa ou se queria precaver-se contra terceiros.

E nós? O marido adormeceu de imediato, eu, irritada e perplexa com o charco no chão perdi o sono. Às 6 e pouco ainda estava na net a absorver informação sobre demência vascular e punções lombares... Vou ficar craque no assunto. Oh, vida! 

24.11.16

O Explorador...

soumaiseu

Ontem ao jantar o marido pergunta:

- Queres coxa ou perna? (referindo-se às pernas de frango estufadas que íamos comer)

- Quero uma asa! 

É do contra! Quando há asas quer pernas e fica de trombas porque a neta come as duas, quando finalmente há pernas para toda a gente o Indiana Jones lembra-se de pedir asas... Que irritante

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