(Rancho Folclórico e Etnográfico da Casa de Concelho de Cinfães, foto retirada do facebook)
Para todos aqueles que nos apontam o dedo porque andamos num rancho, porque somos "pacóvios", provincianos e por aí fora, ora fiquem a saber que:
- Fazemos ensaios e actuações sem qualquer tipo de aquecimento prévio e isso conduz-nos muitas vezes a todo o tipo de mazelas físicas. E quando nos magoamos somos nós que pagamos, não há seguros nem nada disso. Em cinco anos de rancho já fiz uma luxação na rótula, uma ruptura muscular no gémeo e uma entrose grave com rupturas parciais de ligamentos. E ainda assim continuo nisto.
- Se pensam que o esforço é mínimo enganam-se. Os ensaios demoram cerca de 2 horas, sempre aos saltos com muitas repetições com vista a atingir a perfeição. Experimentem por exemplo estar com os braços levantados durante tempo que baste para começar a doer e ter de os manter lá em cima dê por onde der.
- Intervalos a meio do ensaio? Muito raramente... E ensaiamos sempre, quer chova, troveje ou faça sol, com muito frio ou calor extremo, a grande maioria de nós não falha!
- E as actuações? Nem sempre em Lisboa por vezes obrigam-nos a deslocarmo-nos, e nem sempre as autarquias fornecem o transporte. Depois de darmos a nossa palavra vamos nos nossos carros, damos boleia aos que de nós não tem transportes mas vamos.
- Por vezes esperam-nos palcos que ofendem o próprio nome, feitos de tábuas lascadas, painéis soltos e cravejados de pregos ou agrafos. Outras vezes esquecem-se de colocar o palco à sombra ou simplesmente devido à tipologia do terreno isso não é possível. E por vezes não temos palco, tão simples como isto, e dançamos no chão, em cimento grosso, alcatrão areado ou em cima da calçada. Os que dançam descalços ficam com os pés queimados, com bolhas de água, com a pele gasta e descamada pela fricção. Pedicure? Não precisamos... fazêmo-la à nossa maneira.
- E os trajes? Usamos sete camadas como o lobo, saiotes de flanela por cima dos de linho, saias com pano que daria para fazer pelo menos umas três mais travadas e ainda assim rodadas, meias de lã, coletes, chapéus, lenços na cabeça...
- E quando o sistema de som não vale nada? Estraga por completo uma actuação...
Isto tudo para vos dizer que fazemos isto por "amor à camisola". No nosso rancho não se ganha dinheiro com as actuações, actuamos a troco de um lanche, em condições que não são nem de perto as melhores. Mesmo assim continuamos, persistimos e insistimos em mostrar aos que nos quiserem ver um pouco do que se fazia por terras Cinfanenses. Porque "O Passado é história, o futuro um mistério e o presente uma dádiva" (Provérbio Chinês).