Reencontro...
Ontem fui com a Rita à Quinta Pedagógica, nos Olivais. Como sou cabeça de atum não me lembrei dos horários e quando lá cheguei as portas ainda estavam abertas mas os "mé-més" já tinha sido recolhidos... Para contentar a miúda que ficou muito infeliz levei-a a uns "a-às" (= baloiços) ali perto, que ela própria descobriu quando por lá passamos com o carro... Quando vinhamos embora, cruzei-me com uma senhora, cuja silhueta me fez lembrar alguém... tinha uma forte cabeleira loura, cheia de volumosos caracóis, uma magreza estonteante e uma andar demasiado caracteristico... os tiques ainda eram os mesmos! Tinha sido minha professora de Ciências, talvez no 7º ou 8º ano do liceu... chamava-se Conceição... Não sei bem porquê mas fui falar com ela...
- Desculpe, posso fazer-lhe uma pergunta? Foi professora de Ciências, não foi?
E com um sorriso que eu tão bem recordava respondeu-me:
- Fui sim!
- Fui sua aluna!
- A sua cara não me é estranha... Como é que se chama?
- Conceição, como a professora!
- Ah! Pois... Eu também me chamo Conceição. É sempre agradável encontrar alguém que se lembra de nós... estou reformada desde o ano passado...
- Fez bem! Chegou a hora de descansar... ser professora é muito esgotante!
- Foram muitos anos... Também é professora?
- Fui! Dei aulas de inglês num colégio particular durante um ano e não gostei da experiência. Acho que ser professor é muito complicado... é preciso gostar-se muito... e o desgaste é muito grande... para mim, por muito que um professor ganhe, não há dinheiro nenhum que pague o facto de termos de aturar a má educação dos filhos dos outros...
- Pois não! Mas lembra-se de mim e isso é muito agradável!
O que eu não lhe disse é que me lembrava dela pelos motivos errados... lembrava-me dela por muitas vezes ter chegado a casa e ter comentado com a minha mãe "Coitada da Stora de Ciências, os meus colegas fazem-lha a vida negra!..." Ainda me lembro do gosto que ela tinha por ensinar... na paixão que empregava quando escrevia no quadro... quando nos tentava transmitir os seus conhecimentos... mas o que os meus colegas viam não era essa paixão... viam antes os tiques, a magreza exagerada, o imenso cabelo encaracolado... Claro que não lhe disse que a imagem que guardei dela era de uma professora fraca, com dificuldades em impôr a ordem na sala de aula, demasiado nervosa e afectada pela impertinência dos alunos que tinha à sua frente... Claro que não lhe disse que me lembrava dela pelo sentimento de pena que me fazia sentir... Quis poupá-la a essa tristeza... tenho a certeza de que não deve de haver por aí muitos ex-alunos a dirigir-se a ela para a cumprimentar... Posso ter sido uma das poucas a fazê-lo!
"Mas lembra-se de mim e isso é muito agradável!"
Hei-de lembrar-me sempre de si!