Sensação estranha...
E agora que esta época mimada do Dia da Mãe passou, já vos posso contar que no próprio dia da mãe fui com a minha própria mãe para o Hospital. Tem um quisto sebáceo nas mamas (que sempre me lembro de ela ter) mas que agora resolveu infectar.... Doi-lhe, está duro e deita cheiro. Diz a medica que não há-de ser nada de grave, está a antibiótico e a mais uns quantos medicamentos, e em princípio há-de passar... Deus queira que sim porque eu, francamente, já hoje é quinta-feira, e não vejo grandes melhoras... Mas adiante, estava eu com ela no Hospital de S. José, sentadas no corredor em frente à Pequena Cirurgia, quando passa à nossa frente uma maca com alguém deitado, três batas brancas seguiam-no, uma delas levava nas mãos um daqueles aparelhos de choques para o coração. A colcha do hospital cobria o corpo até à cabeça e ia cuidadosamente entalada debaixo do colchão... um braço mal tapado espreitava do meu lado... um braço de homem, moreno, pele jovem... adesivos no pulso e na curva do braço... Aquele homem ia já sem vida... tive uma sensação estranha, uma tristeza imensa, uma sensação de perda, não vos sei explicar. Ele passou e ninguém reparou nele. A vida é tão importante e no entanto são poucos os que se lembram disso. No corredor uma mulher falava ao telefone e assim continuou, a fazer chamada após chamada, contando a sua vida a toda a gente... os bombeiros do outro lado do corredor continuaram a gracejar com o doente que acompanhavam, outros mexiam no telemóvel... Não pude deixar de pensar na vida daquele homem que se acabou, nos sonhos que eventualmente ficaram por realizar, no caminho que o levou à morte... Uns morrem, outros sobrevivem... mas quantos de nós vivemos a vida intensamente?