Quando...
... me perguntam como aguento, como suporto esta situação, como é que eu consigo fazer certas e determinadas coisas. Quando me dizem "que forte tu és, que fibra tu tens, que mulher rija tu me saíste"... Digo-vos que não sou nem menos nem mais do que os outros. Só eu sei a dificuldade com que me mantenho de pé. Só eu sei o esforço que faço para não ceder à tentação de me deixar cair prostrada e me deixar ir com a corrente. Só eu sei as lágrimas que engulo e as vezes que fecho os olhos e calo a minha voz para que ninguém perceba em mim a vontade terrível que tenho de chorar. Para que ninguém me adivinhe a voz em soluço e a garganta apertada. Só eu sei como ando, como me sinto, como me vou mantendo à tona e o quanto isso me custa e me desgasta. Pura teimosia. É esse o meu segredo. Teimosia em não me permitir ceder e em me forçar a manter de pé. Como as árvores. Ainda que por dentro se adivinhe um tronco oco...