Diário de um confinamento, dia 1.
(Imagem retirada daqui)
Começou hoje o isolamento preventivo da Rita depois de um colega de turma ter testado positivo ao Covid 19. Somos sete cá em casa, entre pessoas de risco e idosos. As preocupações muitas, os receios imensos. Está como deve de ser, confinada ao quarto que partilha com a prima, a minha afilhada, que estuda Psicologia em Lisboa. Por opção própria e por questões de segurança a Sara resolveu ficar também isolada com a prima uma vez que as duas andam sempre engalfinhadas uma na outra. Suspenderam-se aulas e todas as actividades extra-curriculares. A vida delas está agora reduzida a um quarto pequeno e a idas furtivas à casa-de-banho, sempre de máscara e com muito álcool-gel à mistura. Eu, mãe, madrinha, filha, esposa, nora, preocupo-me com todos e com tudo, mas apesar do meu stress as duas levam isto na desportiva e empenham-se para que os 21 anos de uma e os 13 da outra não sejam mote para desavenças. E o Ritanhês vai surgindo sempre que a porta do quarto se abre...
- Mãe, a Sara é a minha parceira de cela... (Para a prima) Não te escapas a fazeres Tik-tok's comigo...
- (Responde a Sara) Vai esperando vai... E ó jovem! O que é que raio é que estás a fazer no meu território? (referindo-se ao facto da Rita ter ido para a cama dela, na parte de cima do beliche)
- Então, eu daqui vejo melhor. Estou mais alta, e vejo melhor o pai... (que também optou, por uma questão de bom senso pelo teletrabalho pelo menos durante os próximos dias até sabermos qual o ponto de situação em que está efectivamente a Rita).
E entretanto aguardamos por indicações superiores, do Delegado de Saúde, do Centro médico, de alguém. Com o país a colapsar e a preparar-se para um confinamento mais agressivo, e os hospitais a rebentarem pelas costuras, prevejo um atraso neste contacto. E rezo entretanto para que os sintomas não apareçam cá em casa...