A minha petiz herdou de mim uma bicicleta do tempo da Maria Cachucha, que já veio para as minhas mãos usada, e que fez as minhas delícias durante anos a fio (a minha mãe nunca deixou o meu pai cumprir o prometido e por isso eu nunca ganhei a bicicleta que tinha pedido como prenda de passagem de ano, até ao dia em que uma senhora para quem a minha mãe trabalhava se quis livrar da tralha que era dos filhos). O meu Chaço chegou a mim enferrujado e desafinado. O meu pai pintou-ma de vermelho e prateado. E chegou às mãos da Rita novamente enferrujada pelos anos. O verão passado mandei-a afinar e pensei em manda-la pintar. "A senhora tem aqui uma coisa muito antiga, esta bicicleta deve ter perto de 50 anos... deixe a miúda habituar-se a ela, porque você pode ter gostado muito da bicicleta, mas a miúda pode não lhe achar graça nenhuma... e pintar fica-lhe muito caro, deixe ver primeiro como é que corre com a miúda..." Correu bem, a Rita adora o meu Chaço velho e acha muita graça andar com ela na rua porque todos reparam na velharia e ela gosta de explicar que "Era da Mamã". Este ano rebentou um pneu... Lá fui eu novamente ao Sr. Zé. Arranjar pneus daqueles foi uma aventura, mas lá se desencantaram dois. A miúda anda toda contente porque tem a bicicleta de volta, e eu resolvi pintar o Chaço eu mesma. Hoje já fui comprar 2 tipos de lixa, uma grossa e outra fina. Acho que ainda me vou arrepender de me meter nestas alhadas! Sai uma bicicleta vermelha e entra uma verde alface...