Ao meu AMOR!
Nunca falo de ti... não sei porquê, nunca calhou! Às vezes é-nos dificil falar de quem mais temos junto ao coração. Se calhar por estarmos tão próximos as palavras tornam-se dificeis e desnecessárias... Nunca te disse o quanto a minha vida seria vazia sem ti! Sem ter alguém a quem culpar por tudo e por nada... Sem sentir o teu cheiro ao meu lado na cama... Sem ouvir a tua respiração durante a noite... Sem ter alguém em quem me enroscar ao fim de semana... Então lembrei-me que te podia fazer um poema. Idéia muito triste tendo em conta o estado enferrujado da minha veia poética... Não consegui! Deixo-te um dos poemas mais lindos que já li! Sei que tu e a poesia não se entendem muito bem, mas também sei que vais fazer um esforço!
Vá lá!
Queima uns neurónios !
Para ti, meu Amor!
Fumo
Longe de ti são ermos os caminhos,
Longe de ti não há luar nem rosas,
Longe de ti há noites silenciosas,
Há dias sem calor, beirais sem ninhos!
Meus olhos são dois velhos pobrezinhos
Perdidos pelas noites invernosas...
Abertos, sonham mãos cariciosas,
Tuas mãos doces, plenas de carinhos!
Os dias são Outonos: choram... choram...
Há crisântemos roxos que descoram...
Há murmúrios dolentes de segredos...
Invoco o nosso sonho! Estendo os braços!
E ele é, ó meu Amor, pelos espaços,
Fumo leve que foge entre os meus dedos!...
Florbela Espanca