Sobre o Explorador...
Não há melhoras. Está a tomar uns comprimidos que têm como efeito secundário o aumento das alucinações, por isso é cada vez mais frequente encontra-lo perdido no seu mundo, sem saber se a casa de banho fica para a direita ou para a esquerda, sem saber se dorme "aqui ou lá em baixo"... Muitas das vezes quer ir trabalhar porque ainda trabalha apesar de admitir que já está reformado há muito anos. Quer ir empalhar as vacas. Quer ir plantar batatas. Por vezes pergunta se não esperamos pela minha sogra para jantar quando ela já não está entre nós há mais de vinte e tal anos. Por vezes não quer jantar porque já jantou um bitoque, ou porque já comeu uma tigela de pão com café com leite. Para nós não tem sido fácil, aliás é cada vez mais difícil. O desgaste no casal é brutal. O desgaste individual não é menor principalmente para mim que lido com ele 24h sobre 24h. A família da parte do sogro acha tudo muito fácil, afinal "ele nem faz nada, só está ali quieto"... Dizem-nos para termos paciência sem que lhes passe pela cabeça que esse tipo de comentário é aquele que menos queremos ouvir. É fácil soltar palavras ao vento. É fácil fechar os olhos ao que é óbvio nos nossos rostos. O meu marido emagreceu consideravelmente. Envelhecemos neste último ano e meio. Os cabelos brancos nascem-nos a olhos vistos. Não temos vida familiar. Não podemos ir juntos a uma festa de anos. Jantar fora é complicado. Ir ao cimena um sarilho. Nunca vamos juntos para nada porque um de nós tem de ficar sempre em casa com ele. Estamos cansados. Saturados. Sem paciência para tudo e até para nós próprios. E onde fica o casal no meio disto tudo? Não fica. É como a ganga surrada.. um dia há-de rasgar!