O Explorador...
Hoje de manhã. Tocam a campainha para entregar uma encomenda. O sogro, que passa as manhãs deitado, levanta-se. Digo-lhe que se deixe estar que eu trato do assunto. Vou à porta, recebo a encomenda e volto a trancar a porta (desde a última vez que o sogro fugiu de casa mantemos a porta fechada à chave e as chaves no bolso). Cruzo-me com ele, está de pé no corredor. Diz-me que vai para a sala. Acendo-lhe a televisão e ligo o aquecedor. Regresso aos meus afazeres. Um minuto depois oiço alguém a mexer constantemente na fechadura à bruta e a abanar a porta toda. É ele.
- Então? O que está a fazer? Para lá com isso que ainda me estraga a fechadura....
- Quero abrir esta porta.
- Para quê? A porta está fechada.
- Mas quero abri-la. Ouvi chegar um carro e quero ir ver quem é...
- Qual carro? Vá à janela da sala que dá para a rua. Vê de lá. A porta não dá para ver nada... (vivemos num primeiro andar sem clarabóia ou janela, só indo mesmo à porta do prédio é que se vê a rua em si. A alternativa é a varanda.)
- (Aos gritos comigo já claramente irritado) Abre-me a porta. Já te disse que quero ir lá fora. Tens a porta fechada porquê? Do que é que tens medo? Ninguém te faz mal...
Contrariada abro-lhe a porta. Ele começa a descer as escadas.
- Vai outra vez de pijama para a rua?
- E se fôr? Ninguém me dá outro.
Saiu. Ficou na rua em frente à porta do prédio a ver passar os carros. Eu cá de cima da varanda guardei-o. Até que se cansou e veio para cima.
- Então? Está calor não está? Ainda apanha alguma carraspana que eu depois quero ver como é!
- Qual carraspana! Eu não tenho frio. Nasci no meio do frio não tenho medo dele...
- Até um dia... - disse-lhe eu!
Voltei a fechar a porta à chave perante o olhar critico dele. Ele não disse mais nada e eu também não...
Oh vida!