É por isto.
(Daqui)
Vivo numa vila à beira da cidade de Lisboa. Moscavide é um sitio pacato, cheio de velhos, novos, brasileiros, russos, ucranianos. Aqui ainda se ouvem os sinos da Igreja tocarem dentro da nossa casa. Sabemos pelo seu toque quando há Missa ou quando morreu alguém. Aqui ainda se dá a salvação ao Padre, ao vizinho do lado, mas também ao senhor do talho, ou aquela pessoa com quem nos cruzamos todos os dias e de quem não sabemos o nome mas que nos é tão familiar como se fosse família. Há dias disse a um senhor que podia estacionar o seu Smart no lugar onde tínhamos o nosso carro uma vez que o marido ia já sair. O senhor agradeceu-me e eu fui à minha vida sem saber que tinha ganho uma amigo. Dois dias depois o senhor cruzou-se comigo, deu-me as boas tardes e voltou a agradecer-me a amabilidade. Ontem viu-me com a Rita, meteu-se com ela e cumprimentou-me animadamente. Hoje acabei de passar por ele, deu-me novamente os bons dias, perguntou-me pela menina, e desejou-me um bom fim de semana e muita saúde. Numa altura em que não convivemos, em que não confiamos nos outros, em que passamos o dia com os olhos pregados na tecnologia, eu opto por me deixar alegrar com este tipo coisas. Este senhor deixou-me bem disposta. É por isto que eu gosto de viver aqui. Aqui sinto-me bem, aqui estou em casa. Outro sitio não teria o mesmo encanto.