Considerações minhas...
Gosto de acreditar que tudo na nossa vida acontece por um motivo. Nada é deixado em vão. Já sabem que sou crente e a verdade é que a minha fé me leva por caminhos que se calhar muitos dos que me lêem renegam. Não faz mal. Não estou aqui para converter ninguém. Falo apenas de mim, do que me move, do que aprendo com os desafios que a vida me coloca. O sogro está cá em casa há 2 meses. Não é uma situação fácil. Nunca é. Ter uma pessoa demente em casa não é pêra doce. Cá em casa há dois meses que não sabemos o que é dormir uma noite inteira descansados, salvo as raras excepções em que o organismo colapsa e ferramos no sono até de manhã. É nessas alturas que ele pode pegar fogo à casa que nós não damos por nada. Nas restantes noites o sogro passeia-a pela casa para se "distrair" porque não tem sono. Remexe as gavetas e os móveis para "ver se está tudo bem", senta-se na sala às cinco da manhã para falar com uma das gatas que lhe dá conversa com uns "Minhaus": "Tens preguiça, não tens? Pois tens! Muita preguiça! Pois é... estás cheia de preguiça...". Não é fácil. Já desisti de desabafar com quem quer se seja porque mesmo a família mais chegada acha que ele está muito bem e recusa aceitar o facto do meu sogro estar a ficar choné. As alucinações e os delírios, acontecem essencialmente de noite quando só nós estamos em casa. No outro dia de manhã zangou-se porque estava a ouvir o relato do jogo e depois de ter ido à casa de banho o telemóvel já não o "apanhava". De salientar que o telemóvel dele tem radio mas não tem auricular e os jogos não se fazem de manhã. Quando perguntei quem estava a jogar diz-me "É o Sporting...", respondi-lhe que não se preocupasse que se o Sporting ganhasse logo se haveria de saber: "Sporting? Não... É o Benfica Porto. Eu também gosto de ver os outros...". Ainda lhe perguntei se "Não seria o vizinho de cima a ouvir rádio?", "Não! Eu ouvi, sei muito bem o que ouvi..."
O que eu aprendo com isto tudo? Muito. Depois da fase do embirranço só porque sim e de adaptação à situação percebi que está ali um ser humano, que sempre foi uma pessoa muito pouco acessível mas que neste momento está perdido entre a nossa realidade e um mundo à parte que é só dele. Continuo a sentir raiva e revolta pela situação: sou humana e não tenho problemas em admiti-lo, mas começo a conseguir ver nele uma pessoa que sofre com a doença e que me parece que nem sempre tem consciência disso, que fica muitas vezes perdido sem saber o que pensar, o que fazer, o que dizer. Alguém me dizia no outro dia que nós éramos muito fortes por aguentar esta situação. Eu digo-vos que não. A minha força é relativa porque todos os dias ela vacila e todos os dias eu tenho de a reforçar. Sou apenas alguém que não tem forma possível de fugir e se resignou ao que tem de ser. E se tem de ser, pelo menos que seja o mais leve possível... Já a minha avó dizia "O que tem de ser nosso, nem Deus nem o Diabo no-lo tira!"... É isto. Apenas isto...