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Naquele momento os seus olhos ficaram rasos de água... não era capaz de os secar e numa tentativa de conter as lágrimas acabou por expulsar ainda mais rapidamente uma lágrima ao cerrar as pálpebras dos seus olhos. Tinha sido sempre assim! Não era uma mulher de lágrima fácil, mas quando elas vinham, chegavam como uma tempestade... O seu corpo contorcia-se convulsivamente até se sentir expurgado da dor... depois acalmava durante meses, às vezes anos... até chegar aquele dia em que uma simples afirmação escondida nas entrelinhas de uma conversa perdida provocava o dilúvio! Pensava muitas vezes na memória... aparentemente quem fazia mal aos outros tinha a ábil capacidade de esquecer, mas quem sofria o abuso jamais o conseguia fazer... tudo ficava arrumado no canto mais escuro da sua lembrança, para ser iluminado quando menos se esperava...
- Choras? - alguém pergunta.
E apetecia-lhe gritar "Choro! E depois? Não posso chorar? Também tenho esse direito... choro porque me doi, porque me sinto vitima, porque estou farta! Choro porque me apeteçe! Porque tenho vontade... Choro porque sim!"
Há coisas que não se dizem, porque quando se dizem jamais se esqueçem....