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Sou Mais Eu...

Sou Mais Eu...

26.03.21

Lembranças...

soumaiseu

saudade-tem-rosto-350x275.jpg

(Imagem retirada daqui)

A Páscoa é uma das minha épocas do ano preferidas, não só pelo carácter religioso que me diz muito, mas acima de tudo porque me traz à lembrança doces memórias, que me chegam carregadas de saudade, cheiros, cores. Lembro-me da minha avó materna e do seu ar ora trocista ora zangada com a vida. A minha avó sofreu aquilo que nenhuma mulher deve sofrer às mãos de um marido que a abandonou pouco tempo depois do casamento, grávida do primeiro filho, não sem antes a cobrir com uma boa dose de pancada. Voltou anos depois mais duas vezes para repetir todo o processo. A vida tornou-a numa mulher de temperamento excêntrico, senhora do seu nariz, dona de uma teimosia inata que a impelia  a fazer só aquilo que queria. Regia-se pelas suas próprias regras quer fossem certas ou erradas. Era assim e pronto. Amava os filhos com o ninguém e amava os netos com a mesma ânsia. Foi ela que me mostrou o verdadeiro campo. O suor com que se regam as terras e a alegria de ver os campos a florescer. Com ela conheci o perfume das Giestas. O marulhar do açude. O balir das cabras. O som dos seus chocalhos lá ao fundo. O cheiro a bolos doces acabados de fazer. O cheiro da Matança do porco. E com ela aprendi a crer. Era crente a minha avó mas à sua maneira. Surpreendi-a várias vezes a chorar nas procissões do Enterro do Senhor, e com a mesma devoção com que chorava também se  agarrava ao Adufe para cantar a Ressurreição de Jesus Cristo.  Não permitia que ninguém a pisasse. "Em cima só se pôs um, não se monta cá mais ninguém!" Deixou-nos há muitos anos mas eu continuo a reencontra-la cada vez que a recordo, nas minhas lembranças, nos cheiros que deixou gravados na minha memória. Ainda me recordo da sua voz. Dos seus dedos mindinhos pequenos e retorcidos pelas artroses. Da roupa escura ou negra que ela própria costurava. "Vais fazer o comer, filha? Queres que te descasque umas batatas?". E fico com os olhos rasos de lágrimas  porque é assim que uma avó deve ser. Intemporal. O tempo passa mas tudo o resto fica. Que saudades! 

(Em memória da minha Avó Teresa)

17.03.21

Burrices...

soumaiseu

burro.jpg(Imagem retirada daqui)

Penso que seja geral. Por esta altura os miúdos do terceiro ciclo estão atulhados de trabalhos. Cá em casa anda tudo num virote. Os prazos de entrega super apertados. Hoje a Rita estava a fazer um Power Point de inglês enquanto dava assistência a dois colegas que estavam em dificuldades pelo Whatsapp. E entre o escreve isto e responde aquilo, aproveitando a minha presença na mesa, diz-me assim:

- Mamã, ajuda-me aqui, vou-te ensinar a criar uma caixa num Power Point. Vais ali aquele quadradinho e depois clicas aqui e crias uma caixa de texto...

Eu reclamei que não sei fazer Power Points, que nunca mexi naquilo, mas perante a insistência dela lá segui as suas indicações e fiz o que me mandou. Como não via nenhuma caixa a aparecer no local onde era suposto repeti o processo variadíssimas vezes enquanto a Rita despachava os amigos. Quando ela termina, olha para o portátil, arregala muitos os olhos, leva a mão à cabeça, e em seguida tem um ataque de riso:

- Oh mulher! O que raio é que tu estás a fazer? Quantas caixas já criaste?

- Nenhuma! Eu fiz o que tu disseste mas não aparece lá nada... 

- Mamã, se tu não escreveres nada nas caixas elas não vão aparecer. É por isso que se chamam caixas de texto, tens de por TEXTO, certo? Imagina eu entregar o trabalho assim? Se o meu professor de TIC visse isto ia achar que eu era maluquinha... Como é que eu lhe explicava "Olhe Stor, a minha mãe andou divertida a criar caixas de texto, eu não tive nada a ver com isso..." Quantas caixas tu criaste? Demasiadas mãezinha! Demasiadas! Olha para isto? Nunca mais acabo de fazer Undo... (E ria-se, ria-se!)

E é nestas alturas que eu me sinto muito burra... No meu tempo os trabalhos eram feitos em cartolina (nunca gostei), escritos à mão, dactilografados e só mais tarde fomos salvos pelo Word do computador... Sei lá eu agora mexer num Power Point! Nunca precisei nem preciso de o fazer (hoje foi a minha primeira vez ), só se começar a distribuir Power Points com as tarefas domésticas cá de casa!  

 

13.03.21

E a crise do sogro...

soumaiseu

demencias-com-corpos-de-lewy.jpg(Imagem retirada daqui)

... acabou numa noite passada no hospital. Fez febres altas que não baixavam com paracetamol. Dois  dias nisto. Não queríamos recorrer ao Hospital por causa da pandemia. Questionamos o centro de saúde sobre a possibilidade de uma consulta ao domicilio, "Com Covid não há, quem faz essas consultas é a dra Xpto mas têm de ser marcadas com antecedência e demoram..." A sério? E quem está acamado morre em casa sem assistência médica? Que seja então o Hospital. Ligamos para a Saúde 24, vêm os Bombeiros, febre é sintoma de Covid logo vai para a ala dos doentes com Covid para ser testado. Ninguém pode ir com ele. Vai sozinho. Uma pessoa demente, mentalmente alterada e instável. Ao vê-lo sair porta fora o sentimento de impotência é brutal. A revolta contra esta pandemia diabólica imensa. "Uma pessoa pensa que está a fazer bem e ainda faz pior", foi o desabafo do filho. Lá foi. Comunicam connosco por SMS, "... está a ser visto pelo médico", o resultado do teste do Covid é negativo. De manhã telefonam-nos. O médico diz que o diagnóstico é uma infecção urinária grave. Tem alta, vem para casa medicado. Chega prostrado, visivelmente sedado. Passa o dia a dormir. Quando acorda percebemos que passado o efeito da sedação continua alterado, mal se sustém em pé... É um sarilho movimenta-lo, mexe-lo, leva-lo para onde quer que seja, dar refeições, mudar fraldas, limpar, vestir... O sogro é um homem alto e encorpado, mede mais de 1.80m, apesar de cada vez mais magro continua a ser muito pesado, e os laivos de Parkinson dão-lhe uma rigidez corporal difícil de contornar. O nosso esforço é tremendo. Fazemo-lo por amor. Mas cada dia que passa é mais complicado... Só quem passa por estas situações consegue compreender a turbulência de sentimentos com que vivemos dia após dia...

11.03.21

Por cá...

soumaiseu

margarida.jpg

(Imagem retirada daqui)

... o trabalho aperta. A escola on-line da Rita não deixa espaço para muito mais. Entre aulas, treinos do Sporting em casa e sessões de Brain Alive, a réstia de tempo que sobeja é gasta em TPC's aos magotes e trabalho assíncrono. E a  busca constante da petiz pela perfeição não ajuda em nada: "Mãe, já fiz o trabalho de inglês, podes ver se estão bem antes de enviar à stora? Oh pai, tenho dúvidas em geografia, podes vir aqui? Mãe, tenho mais um trabalho de EV para fazer, e a Tic temos de criar um blog, vais-me ajudar não vais? Oh pai, a net está toda bugada, não estou a conseguir acompanhar a aula, quando é que ligas para lá? A stora está toda parada, assim não pode ser..." Enfim. Daqui a uns anos vamos pensar nestes períodos de aulas on-line com nostalgia, ou não...

Entretanto o sogro está em crise quase constante. Tem períodos em que dá a sensação de não nos conhecer. Trata-nos com cortesia, "Sim, senhora! Não senhor!". Há dias em que quase não fala e permanece enredado no mundo dele. Confunde-me com uma das irmãs e o filho com "uma pessoa qualquer que aqui está a falar com ela (a irmã)". Hoje, sem qualquer motivo porque é assim que a demência actua, está em modo de tiques verbais constantes. O dia inteiro a verbalizar "opa, oh rapaz, ó Morais já lá vais, oh moço..." Sabemos de antemão que a noite vai ser igual e tentamos não pensar muito nisso. Nós lá vamos fazendo a nossa vida dentro do possível tentando ignorar esta musica de fundo constante, que nos enerva, nos irrita, mas que também nos entristece cada vez mais. Não há nada que possamos fazer. Apenas esperar que a tempestade acalme sabendo que brevemente estará de volta. Outra e outra vez... 

05.03.21

Olha a lata...

soumaiseu

IMG_20210305_095536.jpg

(Foto minha)

Levanta-se uma pessoa às sete da manhã, depois de uma noite mal dormida, cheia de sono, vai para a cozinha preparar o pequeno-almoço da petiz que tem aulas às oito, aproveita e come também para ver se os olhos se abrem mais, volta ao quarto, percebe que nem ela nem a metade se lembraram de puxar a colcha para cima, e entretanto a "Bicheza real" cá de casa aproveitou para fazer uma "party" em cima do cobertor... Apanhei uma prevaricadora! E depois ainda se põe a olhar para nós assim com esta carinha de santa... É preciso ter lata! Tenho as marcas das patinhas na cama como prova! Terroristas! 

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