Sobre mim...
Todos esperam que eu pife. Que entre em modo de depressão. Todos me perguntam como consigo, como me aguento. Rotulam-me de mulher forte, resistente, rija. Sabem lá alguma coisa sobre mim! Sabem lá o esforço que faço para todos os dias fazer mais um dia. Estou a começar a ceder ao cansaço. Durmo mal e as horas que durmo não são reparadoras. Irrita-me acordar a meio da noite e não conseguir dormir, mesmo que o Explorador nada tenha a ver com isso. Não tenho paciência para arrumar a casa. Estou farta de passar os meus dias a limpar e a arrumar aquilo que os outros sujam e deixam desarrumado. Não tenho paciência para convívios sociais. Até o Rancho passou a ser um frete. Olho para a minha vida e não a reconheço. Não foi este o modo de viver que eu construi para mim. Não foi esta a forma de estar na vida que eu idealizei. Não reconheço o meu marido, não me reconheço a mim. O que é que eu faço por mim? Nada... O que faço pelos outros? Tenho mesmo de responder? O que é que os outros fazem por mim? Pois é... As minhas únicas alegrias são a minha filha, a cadela e as gatas... Ando em piloto automático. Alguns dir-me-ão que estou a precisar de férias. A esses eu respondo que não gozem comigo. Outros vão-me dizer que bem me avisaram e que eu estou finalmente a ceder. E eu respondo-lhes "Queriam! Essa alegria não vos dou eu!". E os que me conhecem bem entendem que estou sim a passar por mais uma fase negra, mais um daqueles períodos em que tudo perde o brilho. Esses sabem que ao fundo do túnel há forçosamente uma luz à minha espera, e que por muito que eu de vez e quando me deixe ficar na escuridão há um dia em que me farto e saio de cabeça erguida. Às vezes demora mais outras menos... o que me preocupa é o desgaste que fica com o meu rasto...