UM PRÓSPERO ANO NOVO!
(Foto daqui)
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... meu último post pensei em não fazer nada. Muito sinceramente. Mas não seria correto da minha parte para com vocês, que mesmo não me conhecendo de lado nenhum me estendem a mão e me dão o vosso carinho. E é por isso que aqui estou, não para "rebentar" convosco mas para me explicar. Há momentos da nossa vida em que questionamos tudo. E quanto mais questionamos menos resposta encontramos e mais escuro o túnel se torna. Normalmente é aí que chego ao meu ponto de rotura e que me sinto só. No entanto considero que preciso dessa "solidão" para poder dar a volta para trás. Porque há sempre alguém a quem nos podemos agarrar e no meu caso é a minha filha. A minha vida nos últimos meses não é fácil. Queixei-me tanto por ter os meus pais cá em casa um ano e meio que fui castigada: pela porta entrou-me uma situação bem pior, bem mais difícil de lidar e gerir. Onde tudo me irrita e a demência não me parece ser motivo mais que suficiente para as coisas que vejo fazer à minha volta. Sendo a arrogância e a prepotência o defeito do ser humano que mais me custa suportar, o sogro, que reúne com mestria estes dois atributos, está-se a tornar aos meus olhos num ser muito pouco agradável e difícil de suportar. Não agradece nada do que fazemos por ele, comporta-se como se estive-se "em casa", na sua casa. Está ordinário. Os palavrões não me ofendem a beleza, mas quando são usados constantemente começam a irritar-me, até porque tenho em casa uma criança que não gosto de expor constantemente a este tipo de linguarejar. E a condescendência do filho... isso então ! Quanto me irrita meu Deus! Acata impávido e sereno quase tudo o que o pai diz, faz e quer. E isso tira-me do sério. Não pretendo que ande sempre a discutir com ele, mas considero que regras são fundamentais. Uma reprimenda na hora dos palavrões não lhe faz grande mossa, provavelmente não tem sequer qualquer efeito mas pelo menos não pactuamos com o seu comportamento. É como ter uma erva daninha num vaso. Pode até ter uma bela folhagem, mas se não a podarmos quando dermos pela conta ela já tomou conta do vaso inteiro enquanto abafa calmamente todas as outras plantas. É isto. Só isto...
Só. Sem ninguém com quem falar. Aquelas a quem me apetecia recorrer estão longe, e os que estão por perto não me servem. Há coisas que não podemos simplesmente desabafar com certas pessoas. E que faço entretanto? Nada... aguento! Até ao dia em que rebente...
Ontem o filho veio mais cedo para levar o pai ao barbeiro e esta noite, às 5 da manhã o sogro está acordado. Já tem a cama feita e acorda-nos com o "toc-toc" ritmado da sua bengala no chão de madeira.
- Que estás a fazer acordado? - Pergunta o filho.
- Estou à espera para ir cortar o cabelo.
- Mas cortamos o cabelo ontem, não te lembras?
- Mas não me cortaram os pelos do nariz e agora quero ir lá para mos cortarem...
Novo Round feito por mim:
- Então? Está acordado?
- Estou a fazer contas...
- A esta hora? As contas fazem-se de dia, não é durante a noite... Sabe que horas são? Veja lá no relógio as horas que são. (Normalmente uso esta técnica porque o sogro tem tendência a não acreditar ou desconfiar do que lhe dizemos, contudo ele sabe ver as horas, e quando lhe peço que o faça o peso da realidade parece chama-lo mais à razão do que qualquer coisa que nós possamos dizer.)
- São 5 e 10...
- Então? Está sentado na cama, ao frio, não pode ligar a televisão que não são horas para isso...
- Pois não, eu também não a liguei por causa disso...
- Então deite-se, mesmo que não tenha sono pelo menos está quentinho... ainda se constipa que as noites vão frias e o seu quarto é um gelo.
Ficou parado a olhar para mim e a digerir a conversa. Volto para a cama e é a vez do filho lá ir. Lá o consegue deitar.
- O meu pai já está deitado...
- Ele já! Mas agora sou eu que não tenho sono...
Este foi o primeiro Natal em que eu discuti com alguém. Com o sogro. A noite anterior à noite de Natal passei-a a vomitar e por consequência passei o dia 24 mal disposta, cheia de dores no estômago, cólicas intestinais, frio, cansaço. Os petiscos que fiz cá para casa fiz a custo e com sacrifício porque só me apetecia era estar na cama. E é então que na noite de Natal, depois de já termos aberto as prendas, às 5.30 da manhã, o sogro tem um achaque. Está a pé e quer "ir ao funeral do homem que morreu". Explicamos-lhe que não há nenhum funeral, ninguém morreu, e que àquelas horas não se vai a funerais. Insiste. Tentamos mete-lo na cama mas não conseguimos. O filho deita-se deixando-o na sala, sentado na sua cadeira, desperto. Quando dou por ele ressonava ao meu lado. Aquilo irritou-me! Levanto-me e tento mais uma vez dar a volta à situação, irritada como estou não consigo falar-lhe com calma (Mea Culpa), o tom de voz sai-me mais autoritário do que provavelmente seria necessário. E é então que o sogro me grita e me diz "Quem manda aqui sou eu, car....lho! A casa é minha!" O sangue ferveu-me nas veias e as coisas descambaram. Num acesso de raiva descontrolado não me calei, perante a impavidez e serenidade do filho disse-lhe umas quantas verdades, até que percebi que não valia a pena discutir com um homem louco. Provavelmente nesta altura muitos de vós apontam-me o dedo: "Porque raio fizeste tu isso? O que é que te deu? Não sabes que não vale a pena? Que não adiantas de nada?, O homem está louco, não sabe o que diz! "Sei isso tudo! Mas também sei que a situação está cada vez mais complicada. E sei que o meu escape é responder à letra. Sei que por muito que não adiante jamais ficarei calada porque é assim que eu me defendo e me protejo, porque esta é a minha forma de reagir. Mesmo sabendo que nada vou conseguir. Mesmo sabendo que o outro tem a "desculpa" da doença para tudo o que faz, e eu não. Por muito que a doença o justifique não podemos ser constantemente permissivos. Não me calei porque tenho uma filha para criar e não vai ser um sogro mau, venenoso e arrogante que me vai fazer prostar. Posso dobrar, mas jamais partirei! Pela minha filha!
Eu gostava. E ainda gosto. Acompanhou-me na minha infância e na minha adolescência. Cresci com ele. Primeiro com a sua cara laroca, depois com a sua irreverência. Mais tarde com a sua homossexualidade. Careless Whisper. Last Christmas. Father Figure. Freedom. Todas elas marcaram algures a minha forma de experenciar a vida. E para que serve a música senão para isto? Para que serve a música se não for para nos mostrar que é sempre possível olharmos com um outro olhar?
(Imagem daqui)
Porque o mais importante nesta quadra é paz de espírito, amor ao próximo e fé. Digo-vos que este ano estou necessitada destas emoções. Apenas a fé em Deus de que tudo há-de melhorar com Sua Graça Divina me sustém. Ainda assim, a vós que de tempos a tempos perdeis uns minutinhos da vossa vida para passar por aqui, a vós que me consolais e me animais quando eu mais preciso de uma mão estendida, a vós que estais por aí mesmo que virtualmente e vos preocupais comigo e com aquilo que por aqui vou escrevendo... A todos vós, o meu muito obrigada pela vossa presença na minha vida. Acreditem que me fazem grande diferença. E a todos vós eu desejo do fundo do coração um Santo Natal. Que o Menino Jesus vos aqueça o coração nesta noite única...
Cheguei à conclusão que tomar conta do sogro tem sido uma brincadeira de bebes desde que ele veio cá para casa. Nos últimos dois dias o sogro tem estado em crise. Iniciou todo um discurso desconexo e repleto de palavrões. Está desnorteado, agressivo, ameaça as gatas que lhe dá uma bengalada que as "f..de!". Aponta a bengala à neta e dispara um tiro. Chama-lhe galinha. Roga a morte à minha mãe. Diz-me claramente que a minha obrigação é lavar o que ele suja. Há duas noites atrás não dormiu. Combateu o sono tal como uma criança que se recusa a fechar os olhos, falando constantemente, dizendo palavrões, ameaçando tudo e todos, batendo sistematicamente com a bengala no chão num movimento rítmico extremamente irritante, mexendo constantemente os pés enquanto está sentado onde calha porque andar ou manter-se em pé é quase impossível...
- Que estás a fazer? Para quieto com os pés! - diz-lhe o filho.
- Eu estou a andar, não vês? Estou a andar à 10 minutos e não há maneira de chegar ao meu destino...
Cinco da manhã. O filho não dorme porque o sogro se recusa a ir para a cama. Não tem sono e ainda é cedo, diz ele. Encontro um marido desnorteado. Já tentou de tudo. Nada o faz deitar-se. Sugiro-lhe que ligue para a Saúde 24. Durante a chamada descobrimos que tem os diabetes a 251. Acaba por ir para o hospital com o INEM. São feitas as análises ao sangue e à urina de rotina, nada se deteta. É visto por um neurologista que tem acesso ao processo e que imprime o relatório dos testes neuropsicológicos já realizados para nos dar essa informação: a psicóloga conclui o relatório com o diagnóstico de Demência de Grau II. Continuamos à espera que o chamem para internamento a fim de realizar as punções lombares que irão concluir definitivamente o diagnóstico. Entretanto vem para casa com medicação para dormir e uns pensos para estabilizar a doença.
Ontem. Durante o dia continua desnorteado e incoerente. À noite, já sob o efeito do comprimido para dormir o sogro continua a combater o sono.
- Ainda é cedo.
- Vai para a cama. - diz-lhe o filho.
- Hei-de ir, mas ainda é cedo...
Vai à casa de banho urinar. Mal se mantém de pé. Acaba por fazer na fralda não tenho consciência disso. Com as calças nos tornozelos quase se mata ao desequilibrar-se. Ao segurar-se para não cair descola-me a pedra mármore do lavatório da parede. Perdemos ambos as estribeiras com ele. O filho passa-se, grita-lhe. Manda-o para a cama imediatamente de uma forma firme e assertiva. A caminho do quarto ainda tenta ir "ver se está tudo bem na sala". O filho não deixa e impõe mais uma vez a sua vontade. Conseguimos finalmente po-lo na cama. Meia hora depois já ressonava.
Até agora tem sido tudo muito fácil. Pressinto que agora sim, agora as coisas vão começar a complicar. No espaço de cerca de um ano o sogro atingiu o segundo grau de demência. Pergunto-me quanto tempo levará a atingir a última fase... Nem quero pensar naquilo que nos espera. Difícil! Muito difícil! Avizinham-se tempos muito complicados... Oh Deus!
(Foto minha: Doggy, o meu cão)
Fez ontem um ano que te vimos partir. Fez ontem um ano que tivemos de perceber que amar um cão é muito mais do que leva-lo à rua ou providenciar para que nada lhe falte. Com um cão aprendemos o que é o amor incondicional. Aprendemos a gostar de uma maneira muito mais pura e genuína. E quando chega o momento há que decidir o melhor para ele. E como dói tomar essa decisão Meu Deus! Ainda hoje me escorrem lágrimas pelo rosto porque é muito difícil abrir mão mesmo sabendo que tem de ser, que nada mais podemos fazer, que chegou a hora de nos separarmos. Nada nos faz abrandar a dor e dói, dói muito! Às vezes sinto o teu cheiro em casa. Um vizinho antigo, também ele apaixonado por animais, diz que "são eles que nos vêm visitar a casa". Gosto dessa ideia. A casa nunca mais foi a mesma. Fazem-me falta os tufos de pelo pelos 4 cantos, o teu peso bruto aos pés da cama, a suavidade do teu pelo na cabeça e a aspereza que ele tinha no teu cachaço. A tua cauda grossa que nos cumprimentava ressoando no chão de madeira. O teu roçar de corpo nas nossas pernas que quase nos mandava ao chão. Nunca mais tivemos de ir passear o cão à rua mas continuamos a deixar nos nossos pratos o teu mimo. Continuamos a comer sandes olhando para a última dentada que reservávamos para te dar a tua medicação. Quando me cruzo com outros cães na rua procuro nos olhares deles o teu olhar meigo mas nenhum se parece sequer contigo e as saudades magoam. Fazes-nos falta. Trazias ao de cima o melhor que tínhamos, o nosso melhor. Sem ti tudo ficou mais difícil e menos bonito. A tua cor negra alegrava os nossos dias. Continuas a ser o nosso cão e mesmo sem te termos connosco o laço permanece, invisível e firme, porque não há cão tão bom como o nosso cão... Onde quer que estejas, olha por nós.
Hoje este blog estava em destaque com este texto. Vão cuscar que vale muito a pena! E sobre esta questão tenho a dizer-vos que a minha petiz, quase a rondar os seus 10 anos de idade, ainda, sim AINDA, acredita no Pai Natal e tem discussões brutais e muito filosóficas com todos os coleguinhas que lhe tentam tirar o brilho da coisa. Em conversa com ela percebi há muito tempo que ela sabe que o Pai Natal cá de casa é o Pai disfarçado de "Noel". Sabe isso desde que percebeu que ambos usavam as mesmas pantufas e a mesma aliança no dedo da mão esquerda. Quando a questionei disse-me que não fazia mal. Que o que quer mesmo é que o Pai Natal continue a vir cá a casa, não lhe interessa quem o traz.
- E sabes quem compra as prendas?
- Sei... - respondeu-me.
- E isso não te incomoda?
- Não. Não és tu que dizes que cada um de nós tem um Pai Natal cá dentro? Então?
E pronto. É isto. A petiz sabe a verdade mas acredita no Pai Natal interior que cada um de nós carrega no peito. Se é o Pai, ou o Tio, ou o Avô que se veste a rigor isso pouco importa. O que interessa é o espírito da coisa. E eu que faço? Nada! Para quê destruir a fantasia de uma criança que tem a vida inteira para ser um adulto descrente?
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