- Mamã, não quero fazer 9 anos...

- Não queres? Porquê?

- 9 é um número ímpar e eu não gosto de de números ímpares. Quero fazer 10 anos...

- Cresces logo 2 anos? Assim cresces muito depressa... não gosto disso!

- Não faz mal! O mundo não se importa...

"O mundo não se importa..."?

Mas que raio de resposta é esta?

A minha amiga Nocas tem um menino, o Pedrocas, que é da mesma idade da minha Rita. Depois de ler o post dela aqui (que aliás me fez fartar de rir) fui espreitar o livro de Estudo do Meio da minha petiz. Estamos a dar o Sistema Digestivo e ao rever com ela a matéria já obtive algumas pérolas:

- Não gosto da parte da fezes, ugh... que nojo! ...

- Porque é que temos recto? Não podia ir logo tudo para o ânus?...

- O Pâncreas é tão pequenino e dá tantos problemas! Eu pus o dedo no ar para contar à professora que conheço um menino que tem diabetes porque o pâncreas dele parou (um dos nossos dançantes do Rancho tem um filho com 10/11 anos a quem foi diagnosticado há pouco tempo diabetes I), mas ela não me ligou nenhuma...

- Eu não quero ter intestino grosso, só gosto do fininho...

Por curiosidade fui espreitar os outros sistemas. No respiratório bombardeou-me com perguntas sobre a minha asma. No reprodutor não houve perguntas, só um risinho maroto... Vai ser bonito, vai! 

Quando a coisa não lhe corre de feição, é este o novo grito de guerra da minha petiz:

- Mas que raio de mãe é que eu havia de arranjar...

Depois de eu ter feito cara feia, de lhe ter revirado os olhos, de ter reclamado com um "Ritinha!!!!!!", nada resultou. Então resolvi vingar-me... na sequência de uma coisa qualquer que lhe pedi e que ela obviamente não fez como eu queria disse-lhe:

- Mas que raio de filha eu havia de arranjar...

Olhou para mim, arregalou-me os olhos, fez beicinho e disse-me:

- Mamã??????!!!!!!! 

Pronto! Estamos quites! 

Uma das minhas melhores amigas vive em França e ontem ligou-me, como é habitual, mas desta vez para me fazer uma confissão: está com uma depressão grave e estava finalmente a admitir-mo: "Deixei de me fazer forte, que se f...da! Estou mal e pronto!", dizia-me ela.

- Falta de ânimo para ir às compras, o ir sozinha e não trazer nada para casa nem que seja um "tareco qualquer"...

- Sem pachorra para nada, tudo se transformou num grande frete, até ir ao Rancho (curiosamente a minha amiga também faz parte de um rancho, o Generations Lusophones - Traditions du Portugal), "só custou faltar a primeira vez, a partir daí torna-se num ciclo vicioso, não vais porque faltaste e sabes que quando fores as pessoas vão-te querer saber porque é que não foste e tu não queres ter de explicar..."

- O dormir pouco e mal porque se está com a cabeça sempre a processar...

- O comer chocolates como alimento e engordar por causa disso...

- A falta de atenção à família e o não ter consciência disso, mesmo quando o marido reclama que estamos diferentes e o filho nos cobra a atenção perdida...

A minha amiga é uma mulher forte, muito forte. Mas vergou e acabou por quebrar. Sei os motivos dela e não a censuro. Nem todos lutamos da mesma maneira... Esta é a sua terceira depressão. Eu nunca tive nenhuma mas confesso que me identifico com alguns destes pontos. Também eu ando mal, estou muitas vezes na beira do abismo e tenho conseguido virar sempre costas. Mas pergunto-me quando será o dia em que eu deixo de o conseguir fazer... qual é o dia em que eu também vou quebrar. Como dizia a minha avó "Tantas vezes o cântaro vai à fonte que um dia fica lá a asa..." Queira Deus que não! 

Da Rita ter levado uma estalada da colega e de toda a confusão que foi? Lembram-se de eu ter dito que estava certa que a miúda iria voltar a agredir na primeira oportunidade? Lamento dizer-vos mas acertei! (Só não acerto no euromilhões). A mesma miúda voltou a bater, mas desta vez escolheu outra vitima, outra colega de turma. A minha petiz escapou, talvez graças à atitude de "onça ferida" que eu tive, não sei, mas tem sido confrontada com frases como "Sabes Ana (a minha filha chama-se Ana Rita e é tratada na escola por Ana porque a outra, a agressora é só Rita) eu só te bati porque tu me bateste primeiro..." A minha petiz tem ficado calada, diz que não está para se chatear, até ter percebido que estava a começar a passar por ser aquela que "aldraba as histórias todas". Falei com ela e expliquei-lhe que não podia continuar calada. "Quem cala consente", expliquei-lhe que tinha de tomar uma posição. E ela assim fez, mais uma vez atrás do pavilhão a frase da outra veio ao de cima e a minha marcou a sua posição:

"Pára de dizer isso, eu não te bati, tu é que me bateste a mim primeiro. Para com isso! Não sejas mentirosa! Tu é que estás a aldrabar a história toda!!!"

E antes que a coisa ficasse feia e fora do controle a minha filha afastou-se da agressora deixando-a sozinha porque todas as colegas que por ali estavam foram atrás da minha.

Às vezes eu gostava de estar errada....

A minha petiz quando está com sono entra em modo de parvoeira aguda: 

- Quero uma vaca! São fofinhas...

- ??? Uma vaca? E onde a pões?

- No quintal...

- Ritinha, uma vaca não pode estar no quintal! E onde a punhas a dormir? 

- Fica no "pombal" (uma das nossas arrecadações extra foi antigamente um pombal)

- E o que lhe davas de comer? Não te lembras das vacas de Alhões? Tem de ir aos lameiros comer erva...

- Compramos couvinhas no supermercado para lhe darmos...

- Ai é? E como é que tu metes a vaca no quintal? Como é que a fazias subir as escadas do prédio?

Fica pensativa e responde:

- Já sei! Compramos uma daquelas cadeiras eléctricas da Égiro e mandamos fazer uma especial com o tamanho do traseiro da vaca...

Não há limites para a imaginação! 

Soluções à medida para o seu problema by Ritinha, a petiz ensonada! 

Em que o céu está carregado de mau feitio e o vento ameaça levar pelos ares a mínima contrariedade... Gosto. Gosto muito e faz-me sentir bem. Venha a chuva, preciso dela para me lavar a alma...