Foi isto que eu ouvi ontem da boca da minha filha que ainda nem os 5 anos fez! Depois de me ter ignorado após uma birra sem pés nem cabeça, foi este o argumento que eu ouvi "... Mamã, eu gosto de ti, mas tu não me percebes..." Será? Se com 5 anos mal feitos ela me acusa desta maneira que será de mim quando for adolescente?  "A adolescência é uma passagem para a maturidade, não a maturidade para quem tem apenas idade" (António Francisco)

Era só um sonho e ela sabia bem que nada tinha de real, mas a dor que ficou gravada pelas imagens que o seu subconsciente lhe trouxe eram dolorosas... Enquanto duas mãos unidas se afastavam com dedos enlaçados uns nos outros, ela ficara ali, caída no asfalto, cheia de dor e mágoa, dobrada sobre si mesma como que para evitar partir-se em dois.... Ao longe uma vozinha familiar chamava-a em jeito de socorro... mas a dor era tanta que o conforto da mesma era irrecusável.... apenas queria ficar ali... sem perspectivas, sem horizontes, sem nada... Apenas queria não se lembrar daquele sonho!

"Esta senhora tem uma energia esgotante..." Foi com isto que a minha nova médica dentista se despediu de mim, não em jeito de elogio, mas com ar de critica, como quem diz a outra pessoa que o melhor é mesmo abrandar o ritmo... Quebrou-se assim qualquer empatia que se pudesse ter formado. O que as pessoas não sabem, nem querem saber, é que eu não posso parar. Há os que se entregam à inércia, se tornam amantes do não fazer nada... eu não consigo! Parar é morrer, já a minha avó o dizia! Prefiro levantar a cabeça em vez de ficar a chorar no canto, prefiro sair para a rua em vez de ficar a criticar os que andam lá fora, prefiro fazer em vez de esperar que me façam... Energia esgotante? Apenas uma capa para me esconder das minhas verdadeiras sombras! E nem quero saber do cansaço que provoco nos outros...

Quando se tem um pé dormente diz-se:

- Mamã! Tenho formigas no pé!

Como é que nunca nos lembramos disso? Para quê falar de dormência se podemos simplesmente ter formigas?