Dia de Chuva!
De repente o céu ficou carregado de cinzento. Surgiram nuvens puxadas a vento e soprava um frio tremendo. Correu para casa antes que o temporal ali chegasse. Nada a irritava mais do que ficar com os pés encharcados e enregelados. Os dias cinzentos deixavam-na triste, deprimida e cabisbaixa. Gostava do Verão com os seus dias interminavelmente solarengos, com soís capazes de fustigar a erva daninha mais resistente. Se pudesse mandar seria sempre Verão e passaria todos os seus dias a torrar estendida no areal da praia. A chuva começou a cair... grossos bagos estoiravam no seu rosto como pequenos balões de água. Que horror! Agora ia ficar com o cabelo todo frisado e a maquilhagem arruinada... Parou debaixo de um toldo de uma perfumaria. Enquanto passava as mãos húmidas pelo cabelo e sacudia freneticamente a água da mala e do casaco reparou numa pequena figurinha que saltitava apoiada entre dois carros. Entre um e outro salto conseguiu vislumbrar uns caracóis ruivos escondidos debaixo de um gorro de lã grossa que lhe pareceu familiar.... Era o David, o filho da Dona Rosa. Sem sair debaixo do toldo chamou-o, mas o David não lhe respondia. Tentou novamente. Foi lá!
- Que estás a fazer? Estás todo molhado....
A criança levantou os grandes olhos castanhos para ela e com o seu melhor sorriso respondeu-lhe:
- A minha avó deu-me estas galochas para a chuva, mas acho que estão estragadas... tenho os pés secos mas tenho as mãos molhadas... - Pegou na mão dela, virou a palma para cima e disse-lhe:
- Nao sentes? A chuva faz cócegas!
Por instantes esqueceu o cabelo frisado e a roupa encharcada. Por instantes esqueceu o Verão. Afinal um dia de chuva também tem a sua graça!