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Sou Mais Eu...

Sou Mais Eu...

15.02.17

Eu, mãe, me confesso...

soumaiseu

Admito. Quando uma criança não gosta da minha petiz e faz questão de a fazer sentir isso mesmo eu automaticamente também não gosto dela. Mesmo quando a petiz consegue dar um passo na direção da outra criança e elas se aproximam, eu, mãe ferida, fico sempre de pé atrás, observando de longe como uma leoa pronta a atacar ao menor sinal de provocação.... É assim e não consigo evitar! Mea Culpa!

21.12.16

O Explorador...

soumaiseu

Cheguei à conclusão que tomar conta do sogro tem sido uma brincadeira de bebes desde que ele veio cá para casa. Nos últimos dois dias o sogro tem estado em crise. Iniciou todo um discurso desconexo e repleto de palavrões. Está desnorteado, agressivo, ameaça as gatas que lhe dá uma bengalada que as "f..de!". Aponta a bengala à neta e dispara um tiro. Chama-lhe galinha. Roga a morte à minha mãe. Diz-me claramente que a minha obrigação é lavar o que ele suja. Há duas noites atrás não dormiu. Combateu o sono tal como uma criança que se recusa a fechar os olhos, falando constantemente, dizendo palavrões, ameaçando tudo e todos, batendo sistematicamente com a bengala no chão num movimento rítmico extremamente irritante, mexendo constantemente os pés enquanto está sentado onde calha porque andar ou manter-se em pé é quase impossível... 

- Que estás a fazer? Para quieto com os pés! - diz-lhe o filho.

- Eu estou a andar, não vês? Estou a andar à 10 minutos e não há maneira de chegar ao meu destino...

Cinco da manhã. O filho não dorme porque o sogro se recusa a ir para a cama. Não tem sono e ainda é cedo, diz ele. Encontro um marido desnorteado. Já tentou de tudo. Nada o faz deitar-se. Sugiro-lhe que ligue para a Saúde 24. Durante a chamada descobrimos que tem os diabetes a 251. Acaba por ir para o hospital com o INEM. São feitas as análises ao sangue e à urina de rotina, nada se deteta. É visto por um neurologista que tem acesso ao processo e que imprime o relatório dos testes neuropsicológicos já realizados para nos dar essa informação: a psicóloga conclui o relatório com o diagnóstico de Demência de Grau II. Continuamos à espera que o chamem para internamento a fim de realizar as punções lombares que irão concluir definitivamente o diagnóstico. Entretanto vem para casa com medicação para dormir e uns pensos para estabilizar a doença. 

Ontem. Durante o dia continua desnorteado e incoerente.  À noite, já sob o efeito do comprimido para dormir o sogro continua a combater o sono.

- Ainda é cedo. 

- Vai para a cama. - diz-lhe o filho.

- Hei-de ir, mas ainda é cedo...

Vai à casa de banho urinar. Mal se mantém de pé. Acaba por fazer na fralda não tenho consciência disso. Com as calças nos tornozelos quase se mata ao desequilibrar-se. Ao segurar-se para não cair descola-me a pedra mármore do lavatório da parede. Perdemos ambos as estribeiras com ele. O filho passa-se, grita-lhe. Manda-o para a cama imediatamente de uma forma firme e assertiva. A caminho do quarto ainda tenta ir "ver se está tudo bem na sala". O filho não deixa e impõe mais uma vez a sua vontade. Conseguimos finalmente po-lo na cama. Meia hora depois já ressonava.

Até agora tem sido tudo muito fácil. Pressinto que agora sim, agora as coisas vão começar a complicar. No espaço de cerca de um ano o sogro atingiu o segundo grau de demência. Pergunto-me quanto tempo levará a atingir a última fase... Nem quero pensar naquilo que nos espera. Difícil! Muito difícil! Avizinham-se tempos muito complicados... Oh Deus! 

08.09.16

Ritanhês....

soumaiseu

- Mamã, estou ansiosa para que comece a escola...

- Ai é? 

- Assim vou para a escola, vou estar a aprender coisas novas e não tenho de estar a aturar o avô "novo"... 

(A Rita refere-se aos avôs como "velho" e "novo", não pelas idades deles, mas pelo grau de antiguidade no nosso lar, o meu sogro é o "novo" hóspede cá de casa, daí a designação)

A Rita nunca teve uma proximidade muito grande com o avô paterno. Quando ela nasceu veio conhece-la e depois voltou a vê-la quando ela já tinha 7 ou 8 meses. Via-o de longe em longe, nos anos dele, da pseudo-sogra, no Ano Novo, na Páscoa. Houve uma altura em que, por insistência da pseudo-sogra que adorava a miúda, estavam mais próximos e ele até brincava com ela, mas a doença dele foi-o tornando cada vez mais distante e ausente. Hoje é um homem desligado da neta, que está habituado a estar sozinho, tem os seus hábitos, o noticiário é sagrado e gosta de comandar a televisão. Claro que choca com a miúda, claro que não tem consciência para flexibilizar e impõe silêncio quando o que ela quer é cantar e brincar... Já começam a chocar. Ou melhor, ele refila e ela acata a ordem amuada... e chora irritada com a situação. É perspicaz a minha menina. Sabe que o avô não está "bom da cabeça" e talvez por isso não lhe responde como seria de esperar que o fizesse tendo em conta o seu feitio refilão... Mas sente o espaço dela ameaçado e isso não lhe agrada nada. Venha a escola rapidamente que a miúda precisa de arejar o sótão!

 

12.04.16

Gentes...

soumaiseu

Nas férias da Páscoa cruzei-me com uma senhora cega já com os seus 65/70 anos que muito provavelmente tinha cegado recentemente. Ia eu a conduzir o carro a caminho da casa dos meus pais quando, numa rua bastante larga, vejo uma senhora forte, de bengala de cego na mão, no centro da estrada, a descer por ali abaixo como se fosse um enorme passeio. Um carro que vinha no sentido contrário aproximou-se dela com cuidado e percebi pela sua reacção que provavelmente o condutor a deve ter alertado para o facto de estar no meio da estrada. Disse à minha filha que estava comigo "Vou parar e vou ajudar aquela senhora...". Parei o carro em segunda fila mas não cheguei a sair de dentro dele porque entretanto a senhora já vinha na minha direcção. Optei por esperar que ela chegasse ao passeio. Quando se cruzou comigo deu uma traulitada no meu retrovisor entortando-o. Da boca saiu-lhe uma resmunguice ordinária por estar um carro parado ali no meio... Perguntei-lhe se queria que a ajudasse a ir para o passeio. Com uma voz forte equivalente ao seu ar grande e rude respondeu-me que não era preciso, "... vou só ali ao café." O café ficava dois quarteirões abaixo. Não me agradeceu e seguiu o seu caminho. Fiquei com pena e ao mesmo tempo irritada. Aquela mulher recusou a minha ajuda. A sua teimosia parece-me ser o seu grande motor, é aquilo que provavelmente a faz avançar. Cega, teria tudo para ser uma coitadinha, mas parece-me que acontece precisamente o contrário. Tenho-me lembrado dela muitas vezes. Se nós tivéssemos pelos menos um pouco da sua resistência e força de vida tudo seria muito mais fácil. Ou não. Se calhar não seria mais fácil mas pelo menos estaríamos focados em nós próprios em vez de andarmos a escravizar os outros em nosso beneficio...

- Mamã, a senhora nem te agradeceu... podia pelo menos ter-te dito obrigada. Quer dizer paraste o carro para a ajudar, entortou-te o espelho e ainda disse um palavrão, e nem te agradeceu...

- Ritinha, não faz mal! Fiz o que achei que devia ser feito, achei que podia ajudar. O que importa é agirmos de acordo com aquilo que sentimos. Eu fiz a minha parte. O ela não ter aceitado a minha ajuda é um problema dela... não meu. Vamos ter com os avós? 

- Vamos!

 

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