Marchas de Lisboa!
Eram sagradas!
O mesmo grupo de sempre, o namorado (hoje marido) e lá íamos nós.
Começávamos no Marquês de Pombal, víamos as marchas descer a Avenida e íamos descendo com elas... quando a última marcha começava o sua descida nós iniciávamos a nossa subida até ao Castelo enquanto dávamos um pezinho de dança em cada bailarico que encontrávamos pelo caminho!
Depois quando a noite já ia alta voltávamos a descer e a subir a Avenida (o carro ficava sempre estacionado por ali) e regressávamos a casa... No dia seguinte ninguém se mexia com dores no corpo de tanto andar!
Não havia excessos!
Apenas o gosto pelo andar na rua numa noite tão especial, o orgulho em sermos Lisboetas de nascença ou de alma e coração!
O bairrismo ao rubro!
Os fatos coloridos dos marchantes!
A sardinha assada numa fatia de pão!
O fumo dos fogareiros!
Os manjericos com bandeirinhas de quadras brejeiras!
"Meu amor, teu alho-porro
Namora o meu manjerico.
Quando se beijam sem gorro,
Em sobressalto eu fico!"
Todos os anos ele me oferece um porque sabe que os adoro! E todos os anos o deixo morrer! Pobre manjerico!
Hoje o grupo já não é o mesmo... ao longo da vida perdemos e ganhamos amigos! As marchas continuam a ver-se cá em casa, na televisão, mas não tem o mesmo gosto... a guerra de audiências entre canais transforma um acontecimento tão tipicamente Lisboeta numa coisa insuportável, cheia de anúncios e jornalistas tagarelas que não se calam nem à força da bala! Bom mesmo é vê-las ao vivo! Este ano uma amiga do Rancho anda a desafiar-me novamente! Estou cheia de vontade! Temos actuação nesse dia: acho que ela já não me vai deixar regressar a casa! Óh, pá! Que chatice!
P.S: Lembro-me de um ano o Maridão, ainda na pele de cordeiro disfarçado de lobo (namorado, entenda-se!) ter tentado estacionar a carrinha do pai numa rua de sentido proibido entrando nela de marcha atrás... O policia ia-o fuzilando!